Quem nunca ouviu a frase: “Em time que está ganhando não se mexe?”.
Outro dia, ouvi esse mesmo famoso bordão, mas dessa vez soou diferente aos meus ouvidos e logo um questionamento surgiu: “Quando foi que alguma coisa, em qualquer âmbito da vida, perdurou sem sofrer quaisquer alterações?”. Fiquei intrigando pelo claro conflito entre a minha pergunta retórica e a frase que tanto ouvi.
Além disso, por que há tanto tempo tratamos certas coisas como verdades consolidadas, sem nos questionarmos se de fato as coisas são assim mesmo?
É sabido que essa expressão é advinda do futebol. Em um primeiro momento, até parece fazer sentido não se mexer em um esquema vencedor. Mas, se olharmos para a história, é nítido que nem mesmo o futebol faz jus ao seu ditado.
Em retrospectiva, temos a ascensão e o declínio de inúmeras formações táticas de grandes times que marcaram a história. Na década de 1920, por exemplo, só existiam duas posições dentro do futebol: o goleiro e os outros dez jogadores de linha. Nessa época, os jogadores não tinham uma estratégia pré-definida, apenas visualizavam o objeto final, carregar a bola até o gol adversário.
Quando o Uruguai foi campeão mundial, em 1930, a história foi outra. Havia planejamento. A predominância era o 2-3-5 (esquema “pirâmide”) com passes curtos, quase como em um jogo de xadrez.
Já em 1958, a primeira Copa do Mundo brasileira contou com a inovadora formação 4-2-4, que nos presenteou também com o bicampeonato em 1962. Para responder ao esquema brasileiro, a seleção inglesa adotou um novo esquema: o 4-4-2. E, acabou sendo a nova campeã mundial em 1966.
Em 1970, tivemos o 4-3-3 “torto” do Brasil, que nos sagrou tricampeões mundiais e que foi desbancado pelo estilo “futebol total” da Holanda, em 1974.
Seguindo a linha do futebol, podemos discorrer sobre incontáveis formações muito vitoriosas, mas que foram desmanchadas. Isso se torna ainda mais presente nos dias de hoje, quando podemos assistir ao Pep Guardiola inventando e reinventando diversas formações ao longo de uma mesma temporada.
Acredito que essa seja a ideia!
O que quero deixar é que, mesmo quando o assunto é futebol, epicentro da expressão popular, ela não se valida pelo tempo.
E no âmbito empresarial, isso não é diferente. No livro ‘O DNA do Inovador’, Clayton M. Christensen prova, analisando a história da ascensão e declínio de diversas empresas do setor de disk drives, que empresas que querem manter posições competitivas no mercado devem não apenas inovar, mas desenvolver inovações de ruptura, que transformam um produto de maneira tão radical que, em geral, criam novos mercados.
O livro “assume a posição radical de que grandes empresas fracassam exatamente por fazerem tudo certo. Ele demonstra porquê boas empresas, mantendo sua antena competitiva ligada, ouvindo clientes e investindo agressivamente em novas tecnologias, perderam sua liderança no mercado quando se confrontaram com mudanças tecnológicas de ruptura”, segundo palavras do autor.
Se o jargão fosse verídico, o Walkman não teria sido dizimado pelo surgimento do iPod, a Kodak ainda seria líder de mercado com suas máquinas fotográficas da era do filme, o disco de vinil ainda reinaria em nossas casas, assim como a Blockbuster ainda existiria com o modelo de videolocadoras.
Felizmente ou infelizmente, a depender do seu ponto de vista, o famoso jargão ao longo do tempo tem se provado uma grande mentira.
A expressão “Em time que está ganhando não se mexe”, só seria verídica em UMA única circunstância: em condições completamente constantes. Mas, conforme disse Heráclito de Efeso, “a única constante é a mudança”.
A história nos prova que em time que está ganhando sempre se mexeu e, quem não conseguiu acompanhar a evolução, sucumbiu.
Portanto, eu tenho uma sugestão para arrumarmos o que sempre esteve errado: em time que está ganhando se mexe para manter o presente e se inova para garantir o futuro.
Isso até pode parecer uma reflexão boba, mas inconscientemente, durante muitos anos, todos nós somos moldados por definições pré-existentes que acabamos adotando como verdade, sem nos questionarmos sobre o que achamos delas. E, apesar de a redefinição de um jargão poder parecer banal, é com esses pequenos questionamentos sobre o passado que quebramos grandes paradigmas para o futuro.